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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

100% Periferia

Pedro Henrique Benni estudava em um dos mais tradicionais e caros colégios paulistanos com seus 13 anos, quando, após uma discussão com o pai, jogou tudo para o alto e foi viver a sua vida. Para a sua mãe, PH dizia que o pai falava o que ele deveria fazer na sua vida. Se ele quisesse estudar música, não poderia, já que o pai planejava que ele se formasse engenheiro.
Quando saiu do Mackenzie, o garoto tinha dito para o pai: “quero viver para o rap”. O senhor de quarenta e poucos anos não conseguiu entender a razão de um menino, criado em berço de ouro e prata, com tudo do bom e do melhor, sempre ensinado nas melhores instituições da cidade viver para um estilo musical que sequer é compatível com a sua condição social.
Com 14 anos, Pedro já andava em grupinho com uma galera do hip hop. Conheceu o MC Coquinha, parceiro futuro de músicas e duelo de MCs. O Coqueta, apelido este dado por PH, apresentou ao moleque a “mina da sua vida”. Patrícia, garota de 16 anos, moradora do Pacaembu, antiga estudante do Pueri Domus e passou a frequentar as aulas de uma escola pública na periferia, assim como Pedro Henrique, para ficar mais perto do movimento.
Todas as noites, quando voltava para casa, PH sabia do grande problema que enfrentava. Amava seu pai, mas não queria ser alguém moldado conforme as preferências dele, gostava do hip hop e queria viver de rap.
Já com 18 anos, o pai não olhava mais na sua cara, e o jovem decidiu sair de casa. Despediu-se de sua mãe, que aos prantos, pediu que ele tomasse juízo e visse a loucura que estava fazendo. Ele respondia: “Mãe, a periferia é a minha verdadeira casa, sou 100% periferia”.
Partindo para a periferia, o garoto lembrou dos anos de convívio com Coquinha e com a “mina top” Patrícia. Os dois morariam agora juntos, Patrícia estava grávida de 4 meses e já esperava o “branquelo” dela com as suas malas.
Pra receber o filho, a comunidade fez uma festa, churrasco e cerveja liberada pra geral. Enquanto rolava a festa, o jovem sente um aperto no coração e relembra toda a história de sua vida até ali, mais uma vez. Poderia ter se tornado um engenheiro, conquistado fortuna, poderia também criar sua família com conforto e ter um bom relacionamento com a sua família. Mas preferiu voar com as suas asas, pôr em prática seus sonhos e viver da aventura de não ter a certeza plena de como será o amanhã.
Em determinado momento da festa, o celular de Pedro toca. Ele lê no visor “casa” e atende. Com a voz pesada e lenta, a mãe dele avisa que uma tragédia aconteceu. Preocupado ele pergunta o que ocorreu e a mãe responde: “o seu pai morreu… e de desgosto, garoto”.