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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Vida de Rock Star

Mariana estava há dois dias na fila para ver o show dos Lions Brothers. Uma multidão fizera o mesmo que ela. Enfim chegou a noite da apresentação. Os pais da garota disseram: “assista de casa”. O concerto seria transmitido pela NTV, MuitoShow e VH2, mas a adolescente quis ver de perto os três irmãos.
Sucesso no mundo todo, eles eram as paixões do público de 12 aos 15 anos. Paixonite adolescente. “Eu sou sua fã, Mick”, gritava Mariana.
Por volta das 9h da noite, os três garotos entraram no palco. As fãs foram ao delírio quando o ídolo de Mariana disse: “Hello, Brazil, we´re here because we love you so much. Thanks everything”. Muitas nem entenderam o que o ianque havia dito.
Tentando ser rock, mas puxando para o melódico, os Lions Brothers tocaram a primeira música. Mariana, claro, fez questão de registrar o momento histórico que vivia. Quando outra vez na vida, seus amados voltariam ao país?
Durante a apresentação, a garota pensou como seria a vida de rock star. Shows todos os dias, mordomias, viagens para várias partes do mundo, carinho dos fãs e dinheiro, claro, muito dinheiro.
Para o show, a menina tinha levado um presente para os irmãos. Era uma caixa com biscoitos de chocolate, uma camisa estampada com a foto dela, um diário com todas as páginas coladas com fotos dos três e o número do celular dela. “É o plano perfeito, eles vão saber que eu existo”, pensou.
O show finalmente acabou. Durou 1h20, afinal, estamos falando de uma banda adolescente, tem hora para acabar. A mocinha da nossa história não se contentou em jogar o presentinho no palco, ela quis se arriscar. Observou por onde os músicos saiam e seguiu até lá. Enquanto a galera em transe se dirigia para a saída, Mariana ia na direção contrária, para uma porta que dava acesso para atrás do palco. Por descuido da organização e sorte da garota, a porta estava aberta. Mas o lugar estava cheio de seguranças.
Rapidamente a menina entrou no espaço e se escondeu atrás de um biombo. Avistou os irmãos bebendo água e conversando com assessores. Refletiu: “Essa é a melhor chance que tenho”. Se ela saísse dali correndo, certamente os seguranças a pegariam e, além de não entregar os presentes, seus pais seriam chamados e ela ficaria de castigo. Se ela voltasse seria um recuo de covardia. Ela lembrou das vezes em que ouvia o cd dos garotos a noite toda, das camisetas que mandou estampar com a foto da banda, das brigas que teve com amigas para ficar em casa e ver o show dos três pela TV e lembrou: “Eu sou fã”.
Ela, então, partiu para o tudo ou nada. Saiu do biombo e gritou: “Mick, olha aqui, Mick, presta atenção em mim”. O pirralho olhou para ela, mas os seguranças também. Vendo que ela estava com algo nas mãos, foram em sua direção. Sabendo que iam pegá-la, a jovem foi mais rápida e jogou a caixa na direção dos irmãos… É, ela percebeu logo após a besteira que havia feito.
Os seguranças pegaram-na e sairam com ela pela mesma portinha. A caixa, ah, a caixa, ela não trouxe boas recordações para o cantor ianque, naquela noite ele levou 10 pontos na cabeça, uma enxaqueca e percebeu que a vida de rock star não era fácil, sobretudo quando se tem fãs loucas que jogam caixas de madeiras com presentinhos que parecem fofinhos.


Por Lucas Meloni

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

100% Periferia

Pedro Henrique Benni estudava em um dos mais tradicionais e caros colégios paulistanos com seus 13 anos, quando, após uma discussão com o pai, jogou tudo para o alto e foi viver a sua vida. Para a sua mãe, PH dizia que o pai falava o que ele deveria fazer na sua vida. Se ele quisesse estudar música, não poderia, já que o pai planejava que ele se formasse engenheiro.
Quando saiu do Mackenzie, o garoto tinha dito para o pai: “quero viver para o rap”. O senhor de quarenta e poucos anos não conseguiu entender a razão de um menino, criado em berço de ouro e prata, com tudo do bom e do melhor, sempre ensinado nas melhores instituições da cidade viver para um estilo musical que sequer é compatível com a sua condição social.
Com 14 anos, Pedro já andava em grupinho com uma galera do hip hop. Conheceu o MC Coquinha, parceiro futuro de músicas e duelo de MCs. O Coqueta, apelido este dado por PH, apresentou ao moleque a “mina da sua vida”. Patrícia, garota de 16 anos, moradora do Pacaembu, antiga estudante do Pueri Domus e passou a frequentar as aulas de uma escola pública na periferia, assim como Pedro Henrique, para ficar mais perto do movimento.
Todas as noites, quando voltava para casa, PH sabia do grande problema que enfrentava. Amava seu pai, mas não queria ser alguém moldado conforme as preferências dele, gostava do hip hop e queria viver de rap.
Já com 18 anos, o pai não olhava mais na sua cara, e o jovem decidiu sair de casa. Despediu-se de sua mãe, que aos prantos, pediu que ele tomasse juízo e visse a loucura que estava fazendo. Ele respondia: “Mãe, a periferia é a minha verdadeira casa, sou 100% periferia”.
Partindo para a periferia, o garoto lembrou dos anos de convívio com Coquinha e com a “mina top” Patrícia. Os dois morariam agora juntos, Patrícia estava grávida de 4 meses e já esperava o “branquelo” dela com as suas malas.
Pra receber o filho, a comunidade fez uma festa, churrasco e cerveja liberada pra geral. Enquanto rolava a festa, o jovem sente um aperto no coração e relembra toda a história de sua vida até ali, mais uma vez. Poderia ter se tornado um engenheiro, conquistado fortuna, poderia também criar sua família com conforto e ter um bom relacionamento com a sua família. Mas preferiu voar com as suas asas, pôr em prática seus sonhos e viver da aventura de não ter a certeza plena de como será o amanhã.
Em determinado momento da festa, o celular de Pedro toca. Ele lê no visor “casa” e atende. Com a voz pesada e lenta, a mãe dele avisa que uma tragédia aconteceu. Preocupado ele pergunta o que ocorreu e a mãe responde: “o seu pai morreu… e de desgosto, garoto”.